sexta-feira, 1 de março de 2024

Uma febre chamada vida

Aos mestres, Edgar Allan Poe e Federico Fellini. 

O belíssimo título desta crônica é fragmento de um poema de Edgar Allan Poe, cuja tradução exata diz: “...e essa febre chamada vida, se conquistou”. 

Quando ouvi a frase hoje de manhã (que me encantou, e me disse tanto, e me deu estalos, e me inspirou - coisas que só a literatura consegue fazer por você em sete palavras) atribuída a ele, Poe, a primeira sensação que tive foi de estranhamento, por remeter a tudo que a obra de Edgar Allan Poe não é: solar, vital, positivo, concreta, realista.

A íntegra do poema, chamado Para Annie, fez mais sentido. Interpretei como um poema de amor, onde ele fala da redenção da vida para finalmente ir ao encontro de Annie, seu amor. Fez mais sentido ainda ao conhecer a estória pessoal de Poe, que perdeu a esposa precocemente, de tuberculose: mulheres jovens e moribundas passaram a ser temática recorrente em suas obras. 

A fixação de Edgar Allan Poe pelo macabro, pelo sombrio, pelo realismo fantástico sempre me encantou, mas eu nunca havia parado para pensar de onde vinha a inspiração para os adoráveis absurdos. E vejam só, é autobiográfico. 

Sempre achei difícil escrever, ou produzir qualquer tipo de arte, sobre o que desconhecemos completamente, sobre o que não sentimos, vivemos ou observamos. Alguma referência, ainda que inconsciente, a mente sempre vai buscar dentro de nós. E vai na nossa essência. E chamamos graciosamente de inspiração, acreditando na fortuitidade, no acaso. Agora imaginem o embate com outro instinto presente (agora em nosso consciente): o da preservação da própria intimidade. 

Quando se produz arte, qualquer uma das sete contidas no Manifesto das Sete Artes (Arquitetura, Escultura, Pintura, Música, Poesia, Dança e Cinema), o autor se expõe. Suas crenças, seus preconceitos, seu propósito de vida, tudo está sujeito à interpretação do leitor. É quase como ficar pelado em praça pública. A nossa sorte é que no mundo digital a maioria das pessoas tem preguiça de ler, o que faz com que a exposição seja direcionada, naturalmente e muito provavelmente, para quem olha na mesma direção que você. Que sorte a nossa!

Termino com algumas sugestões para quem quer conhecer Edgar Alan Poe e a classificação das Sete Artes, além da citação de um mestre da sétima arte, Federico Fellini: “Toda a arte é autobiográfica, a pérola é a autobiografia da ostra”.

O Gato Preto - Edgar Allan Poe | Conto Completo | Fantástica Cultural (fantasticacultural.com.br)

Quais são as 7 artes? - Academia Brasileira de Arte –

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Da melhoria das gerações e a politização do Enem

Hoje foi o segundo dia da prova do Enem.  Como conheço jovens que estão fazendo a prova, venho acompanhando a maratona e o bafafá que foi no domingo passado quando várias partes da prova foram criticadas pelo possível teor político-identitário, ou simplemente tendencioso e extremamente interpretativo que traziam.  De erros grosseiros de ortografia ao tema da redação, passando por suposta crítica ao agronegrócio, foi um prato cheio para tumultuarem o que já não é simples para os únicos que de fato são impactados pelo exame: os jovens.  Felizmente não cancelaram a prova, como chegou a ser aventado, mas fiz questão de entender o ponto de vista deles, os “Enemers” - como eles se auto-identificam com aquela alegria e leveza tão peculiar.  

Conversei com um Enemer equilibrado. Que estudou, mas não bitolou. Que se dedicou a vida toda, e não só não último ano, e que exatemente por isso se deu ao luxo, neste último ano, de levar uma vida normal. Estudou, fez exercícios, foi à praia, se alimentou bem, dormiu bem, namorou e passeou. Tudo de forma equibilibrada, o que na minha modesta opinião é a estratégia correta não só para o Enem, mas para a vida.  Mas vamos ao tema principal da conversa: a redação.  Como eu gosto de escrever e tirei 10 na redação nos dois vestibulares que fiz há mil anos atrás (cujo tema foi “lazer”, levando muitos a zerar a prova ao dissertar sobre raios lasers...), eu tinha tudo para orientar e instruir em como fazer uma boa redação. Mas me recolhi à minha insignificância e possivel desatualização, e sugeri um curso atual de redação, focado no que as bancas examinadoras exigiam hoje.  

Como a redação pode ser feita em um rascunho primeiro, terminada a prova eu pude ler a redação entregue praticamente na íntegra. O tema era: O trabalho invisível de cuidado das mulheres. Importante? Sem dúvida. Adequado? Não sei. Ouvi de muitos que não era adequado pois os jovens teriam que falar de um assunto que só se aprende com experiência e uma vivência que eles não tinham. Discordei. Acho-os perfeitamente capazes de discorrer sobre qualquer assunto que tenham algum nível de compreensão.  Opiniões de lado, a redação que eu lia me parecia a continuidade perfeita do enunciado do tema.  Misandria, misogenia e até Marx eram citados, reforçando a importância e necessidade de atenção do governo para a questão.  Fiquei surpresa com a profundidade da análise dele e a riqueza de vocabulário, mas mais ainda com a ideia que estava sendo proposta ali, tão sútil quanto as questões “neutras” da prova.  

Elogiei a redação e perguntei: mas você pensa assim? E ele, muito calmo, me disse: eu escrevi para a banca, fiz uma redação técnica. O que eu penso eu posso dizer depois. E eu fiquei pensando a semana inteira nisso. Como pode na minha época o tema ser lazer, ou a morte do superhomen (tema do ano seguinte ao meu), e um bando de lunáticos tirar zero por não saber ortografia, e hoje jovens dissertarem, e bem, sobre questões realmente relevantes para a sociedade, com propriedade, ideias e argumentos claros, coesos? Como podem, com tão pouca idade, já terem plena consciência sobre sustentabilidade, igualdade de direitos, deveres, gênero e raça? Se isso não é evolução da humanidade, eu não sei o que é.

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domingo, 5 de novembro de 2023

Você tem medo das redes sociais?

Você tem medo da inteligência artificial? Da tecnologia? Das redes sociais? Da inteligência artificial eu até entendo, pois beira o universo futurista que víamos nos filmes desde crianças, com aquela pegada meio androide, meio humano que sempre entregava. E continua entregando, nem que seja medo.  A mais recente onda de pavor cibernético traz nudes fakes de famosas sendo distribuídos pela rede. Boletins de ocorrência e ampla divulgação dos casos para alertar os incautos.  Mas meu ponto aqui é mais especificamente as redes sociais.  

Divido os meus amigos das redes sociais em dois grupos: os estáveis, que tem o mesmo email e conta nas redes sociais há anos; e os que surtam, que suspendem e reativam suas contas várias vezes por ano.  Os que surtam são um grupo curioso: são inteligentes, acima da média até, mas que supervalorizam as redes sociais e subestimam o autocontrole.  E quando você supervaloriza qualquer coisa, você está mais sujeito a comportamentos extremistas – como se apagar repentinamente do mundo virtual.

As redes sociais vêm sendo desenvolvidas há mais de 50 anos. Os primeiros protótipos são de 1969.  Dois anos depois o primeiro email era enviado e criava-se o BBS – Bulletin Board System, um sistema que serviria para anúncios pessoais.  Em 1985 a AOL (leeembraammm?) cria os famosos chats virtuais, que seriam a base para os programas de mensagens subsquentes (ICQ, Messenger). Dez anos depois o Geocities (comprado pelo Yahoo!) possibilitaria que as pessoas criassem suas próprias páginas web. Em 1995 as primeiras redes sociais de fato eram criadas mas em pequena escala: a Classmates e a The Globe, usadas para promover encontros de pessoas com interesse comum. Por volta do ano 2000 a internet se massificou, entrando nas universidades, escritórios e casas das pessoas.  Em 2002 apareceram os avós do Instagram e do Facebook com nomes bem pouco criativos: Fotolog e Friendster.  Em 2003 veio o LinkedIn, aplicando o conceito de redes ao trabalho. Em 2004 começaram a explodir as redes sociais de grande escala, dentre elas o Orkut e o Facebook.  Em 2006 o Twitter veio fazer frente ao Facebook na disputa pela preferência dos usuários. Em 2010 veio o Instagram (meu favorito!) que se turbinou ao copiar o modelo do Snapchat (2011) de vídeos curtos, os stories.  Os stories merecem uma menção honrosa: a sacada de você mostrar, as pessoas verem e ninguém ver quem viu o que é de uma sagacidade ímpar. Dizem as más línguas que converte até mais que o Tinder, que viria em 2012 dando match no coração da galera. Dali pra frente muitos outros surgiram, inclusive o Tiktok, em 2016, vindo arrebanhar a geração Z - até então bastante alheia às redes sociais dos velhos.

O ponto é que em qualquer uma dessas muitas redes sociais, a auto-comparação que vem inevitavelmente quando nos conectamos contribui muito para os surtos que mencionei no início, e para a (falta de) saúde mental dos usuários (a começar pelo nome que nos dão: “usuários” – como os que usam drogas).  Não acho que o problema esteja na rede social, mas na forma como a usamos.  As pessoas reclamam da falta de privacidade mesmo sendo avisadas previamente do risco de exposição. Reclamam dos anúncios direcionados quando a navegação delas mesmas é que dá esse direcionamento. Reclamam que as pessoas estão ficando piradas mas acham razoável passar 3h, 4h por dia com a cara no celular.  Reclamam que ninguém mais lê, mas se a legenda passa de 3 linhas já rola a tela.  

Como em tudo na vida, o bom senso precisa ser nosso aliado. Não super valorize. Não perca tempo com o que não te faz bem. Use a tecnologia a seu favor: adquira conhecimento, encurte espaços, simplifique a rotina. Não exponha na internet o que você não exporia na vida real. Ponha os algoritmos para trabalhar para você, já que sabemos como o jogo é jogado. E uma última coisa: quer privacidade total? Não use a internet.

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domingo, 29 de outubro de 2023

Chandler e a geração X - Could I be any more sad?


Chandler Bing era conhecido por seu humor sarcástico. Favorito de muitos fãs de uma das séries de TV de maior sucesso mundial (WarnerBros.com | Friends | TV), o personagem de Mathew Perry era talvez o mais real dos seis amigos.  Não costumamos ter um amigo paleontologista. Nem todo mundo é amigo de um ator mal sucedido. Alguns podem até ser amigos de chefs.  (Phoebe e Rachel deixo de fora da lista porque há diferentes níveis de fofura e maluquice nas duas, a competição não seria justa). Mas um amigo do mundo corporativo, que ninguém entende o que faz e encara o dia a dia com bom humor e piadas, todo mundo tem.

Friends foi um seriado de sucesso porque foi oportuno. Assim como as piadas de Chandler. E era simples (ah, a simplicidade!). Chandler, Monica, Ross, Rachel, Phoebe e Joey representam a essência da geração X – que também é a minha e provavelmente a sua que está lendo este texto.

A geração X veio depois da geração da contracultura, os babyboomers. Os babyboomers sairam de casa para trabalhar e perceberam que não precisavam manter um casamento que não funcionasse. Divorciaram-se. Mães foram trabalhar fora. Dois chefes de famílias ou nenhum chefe de família.  Eis que a nossa geração, a X, crescendo neste meio viu que havia um outro componente possível para a conta emocional fechar: os amigos.

Nossa geração deu um imenso valor à amizade.  Substituir uma eventual disfuncionalidade em casa, ou no trabalho, ou no amor, pelo acolhimento dos amigos fazia todo sentido. E foi mostrando isso que a série cativou o mundo. As histórias eram simples, cotidianas, engraçadas.  Havia menos policiamento, moral e civil.  Ninguém era cancelado, tampouco ultrapassava-se os limites do bom senso (ah, o bom senso!). Foi universal e perene: eu gostei e meu filho, quinze anos depois, gostou também.  Não ficou datado... sabe por que? Porque a essência humana é atemporal.  Longe de mim querer dizer que a geração X ressignificou o conceito de amizade, mas fico feliz que as gerações seguintes seguem dando o valor que ela merece. 

Descanse em paz, Mathew. Obrigada por toda a alegria que você e seus amigos trouxeram para várias gerações.

 

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sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Amigos x Conhecidos

Hoje vi um meme que dizia assim: “Vamos normalizar rebaixar amigos para conhecidos, quando não estiverem mais aptos para a função”. Como toda piada boa, traz um fundo - ou boa parte - de verdade. Os amigos são “rebaixáveis”? Não, amigos são cíclicos.

Amigo de verdade nunca deixa de ser amigo, mas as amizades têm fases. O pulo do gato é percebê-las para conseguir manter quem é importante por perto, saber lidar com as fases, entrar e sair de cena.

Amigos de verdade não se faz a cada esquina. Um mundo de coisas aproxima ou afasta as pessoas. Para entrar na sua vida e ficar precisa afinidade, rotina, sorte. Sorte de ter estudado na mesma escola, de não gostarem da mesma professora, de gostarem da mesma banda, de terem escolhido a mesma faculdade, passado para o mesmo estágio, escolhido a mesma festa naquele sábado à noite, terem tido filhos em momentos próximos, terem tido decepções ou conquistas parecidas, no mesmo momento, nos mesmos lugares.

Amigo de verdade te conhece. Sabe quando você está passando do ponto e vai te dizer isso nem sempre da forma que você gostaria. Ainda assim agradeça, a maioria não te diz nada por comodismo, falar a verdade e encarar as consequências dá trabalho e desconforto.

Amigo de verdade vai passar por inúmeros ciclos da sua vida. Às vezes de perto, às vezes de longe, dependendo da fase em que está. Nem toda fase comporta qualquer amigo, mas o amigo de verdade sempre volta para sua vida. Nem que seja para atualizar do que aconteceu nos últimos anos, sumir outros tantos e voltar no seguinte como se nada tivesse acontecido.

Amigo de verdade não se justifica, não se demora, não faz rodeio. Não manda mensagem educada com “oi, boa tarde, tudo bem?” – entra direto no  “tá fazendo o que? Vamos pra tal lugar?”. E quase sempre o outro vai, porque amizade é sintonia. É gostar das mesmas coisas, é querer estar nos mesmos lugares e, luxo maior, querer isso ao mesmo tempo, na mesma fase da vida.

Esta sincronicidade é rara. O fim da pandemia, por exemplo, provocou uma sintonia geral nunca vista. Nunca todos quiseram tanto e ao mesmo tempo sair, encontrar amigos, conversar, beber, rir, beijar, abraçar, ficar junto. A preciosa sintonia. Mas a falta dela também não é o fim do mundo. Acho que nunca vai ser preciso rebaixar os amigos a conhecidos. Eles só estão em um momento diferente do seu. Se for amizade de verdade espera, já já vocês se encontram de novo.

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segunda-feira, 17 de julho de 2023

Se você quer o sétimo céu, vai ter que subir degrau por degrau

 

Já dizia Leo Jaime. Hoje parada num sinal de trânsito ao ouvir o refrão desta música no rádio lembrei do que me disse um cartomante há vinte anos atrás, quando perguntei se daria certo escrever, atuar, trabalhar com arte.  Muito charlatanamente ele me respondeu que só dependia de mim, que eu tinha todas as ferramentas para isso mas o quanto de esforço eu dedicasse é que determinaria o meu sucesso. Logo depois de ele dizer também que havia  “um trabalho” direcionado para minha vida pessoal, e que por vinte reais ele poderia neutralizar tal mau agouro, eu saí pensando em quanto está exclusivamente na nossa conta o sucesso de qualquer empreendimento.

Existe uma combinação de sorte, pré-disposição e oportunidade para as coisas acontecerem.  No meu caso, olhando minha linha do tempo constatei que nunca consegui reunir de forma consistente e simultanea estes trê elementos com a finalidade de escrever. Peguei a sorte para formar uma família, aproveitei a oportunidade para voltar a trabalhar quando os filhos já estavam menos dependentes. A pré-disposição vem em doses periódicas não regulares, como vocês podem ver pela esporadicidade das postagens deste blog. Arquei com as consequências profissionais destas escolhas – algum atraso em evolução profissional se comparado aos meus pares de início de carreira - mas os ganhos pessoais compensaram.

Por um excesso de pragmatismo rapidamente coloquei o hábito de escrever na prateleira do hobby, que fazemos quando dá, sem obrigação – o que é até coerente, já que para escrever precisa inspiração, que não vem na marra. Mas “a inspiração precisa te encontrar trabalhando” (sábio Picasso). A sorte precisa te encontrar trabalhando. O talento precisa te encontrar trabalhando, seja ele para o que for.  E por trabalho entenda-se uma sucessão de esforços contínuos em todos os aspectos da vida.

É extenuante, é cansativo, é desafiador. Ser feliz continua dando trabalho (reparem que tem um post de 2014 com este título). Dá um trabalho danado e requer manutenção. Se for preventiva ainda melhor (a reativa costuma ser bem mais dolorosa). Requer cuidado. Requer agilidade, somos uma máquina que muda rapidamente. Requer mais do que tudo perceber estas mudanças inerentes ao comportamento humano. Mudamos nossos lugares preferidos, nossas pessoas favoritas, nossos quereres... E de tudo que dá trabalho talvez o mais difícil deles seja identificar as mudanças, saber quando aceitar, quando negociar e quando se adaptar a cada uma delas. Se o Leo acertou no refrão, talvez tenha errado no título da música. Tudo muda, o tempo todo.

sexta-feira, 4 de março de 2022

Frenesi social

 

Eis que volta a haver tempo para produzir algo não relacionado ao trabalho. Pensei comigo esses dias: vou dar uma olhada no blog e rir do que escrevi no passado. Comecei rindo da sessão “Sobre mim”.  Para quem se diz inconstante, a descrição que estava lá durou bastante tempo: 16 anos!  Pouco mexi na atualização que fiz hoje.  Por mais inconstante que seja uma pessoa a essência dela tende a ser a mesma por toda a vida.

Estamos experimentando uma guerra neste exato momento, que espero com fé que não se prolongue a ponto de virar uma crônica aqui, por isso vou passar batida.  Gosto de amenidades (se é que o comportamento humano pode ser considerado uma, tenho dúvidas).  Experimentamos nossa primeira pandemia, que parece estar finalmente terminando.  Experimentamos 2021 como um ano de receio, celebração e redenção. 

Receio por ainda não estarmos livres da pandemia: seguimos vacinando, morrendo, vacinando de novo, aglomerando, se isolando, aglomerando de novo, reclamando da mídia vergonhosa, politizando a saúde.  

Celebração porque na menor brecha que tivemos, celebramos. Celebramos casamentos adiados de 2020, viagens canceladas, reencontros antecipados, celebramos estar vivos.  O que curiosamente fez de 2021, ainda que um ano pandêmico, um ano de encontros inesquecíveis cuja única explicação está na redenção.  Foi um verdadeiro frenesi social, tamanha a ânsia das pessoas em voltar a viver.  Se reuniram, comemoraram, riram, dançaram, beijaram. Se rendendo à natureza humana que é gregária, ainda que de máscara.

domingo, 29 de março de 2020

O dia em que a Terra parou


Quando Raul Seixas escreveu a música, ou quando o filme foi gravado em 1951, ou ainda quando o conto (Farewell to the Master, inspiração do filme) foi escrito por Harry Bates em 1940, nenhum dos autores imaginou que o mundo pararia em Março de 2020 por um vírus.  Embora a letra da música de Raul e Claudio Roberto encaixe com perfeição à realidade que o mundo vive hoje, dificilmente eles anteciparam que seríamos parados por uma força não-intencional (diferente da guerra, referência da música); ou aleatória (diferente da visita extraterrestre, referência do conto). Bill Gates sim. Bill Gates antecipou há cinco anos atrás, em uma palestra do TED Conferences, que nosso pior inimigo poderia ser um vírus. E com sua mente brilhante questionou quão (des)preparada estava a humanidade para lutar contra um inimigo que não vê.

Ironicamente nas últimas semanas vimos de tudo. De teorias conspiratórias pregando a intenção da China em disseminar um vírus para dominar o mundo aos esquerdinhas-caviar usando o bate-cabeça governamental generalizado para reafirmar seu posicionamento político. O que mais me assombra (além da estupidez humana exemplificada acima) é a velocidade com que o mundo parou e como o senso comum preponderou em uma situação como esta.  A velocidade com que todos os jornais passaram a ter uma única pauta, com que todas as publicações de redes sociais passaram a ser sobre um mesmo tema, com que todo o mundo passou a falar uma única língua, se perguntando: como vamos nos manter vivos?, é sem precedentes. Assim como estar diante de uma ameaça que não distingue classe social, onde o dinheiro não faria diferença frente a hospitais colapsados, carros sem gasolina, mercados sem comida.

De todas as formas que imaginei o Armageddon em nenhuma delas vi a humanidade lutando como hoje. É claro que tem discórdia. É claro que tem gente querendo tirar vantagem. É claro que tem gente surtando. Somos 8 bilhões de cabecinhas pensantes. Ainda assim o senso comum prevalece na resposta à ameaça. O mundo parou porque as pessoas ouviram a ciência, e a ciência disse que era preciso lavar as mãos e ficar dentro de casa. Em meio às contraditórias discussões sobre como deve ser o isolamento, o isolamento permanece. Embora ainda não façamos ideia do fim desta história, visto que estamos em uma triste curva inicial ascendente, uma nova rotina se faz. As pessoas deram seu jeito de trabalhar de casa, de se exercitar na sala, de manter seus velhinhos no quarto. De distrair as crianças, de arrumar, cozinhar e lavar sem a diarista. De brigar e fazer as pazes com a família (porque se estar encarcerado com sua solidão é difícil, com a voluntariedade de muitos também é). E devagar se começa a pensar na retomada das atividades sem perdas ao plano de contenção de contágio, porque o mundo não pode continuar parado. Diante disso vejo o copo meio cheio, lá na China, onde a curva que desce trouxe a vida de volta. E me assombro de novo com a capacidade de adaptação do ser humano.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Link para comprar o meu livro:

Malu & Edgar, o livro

Sinopse:

Afável, como classificara certa vez o professor em seu primeiro estágio na faculdade. Responsável e centrada, como acreditaram os pais a vida inteira. Adoravelmente louca, como pensavam os amigos. Aos trinta anos Malu é uma redatora profissionalmente bem sucedida e irrequieta com suas questões existenciais. Da infância pacata e adolescência precoce vividas na Serra fluminense, trouxe os valores familiares e a lembrança do primeiro amor. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro, depara-se com um novo estilo de vida e muitas decepções amorosas. Cria um forte vínculo de identificação com os amigos, que com bom humor e otimismo encaram as delícias e amarguras do relacionamento moderno. No ambiente de trabalho conhece aquele que mudaria para sempre sua visão do universo masculino, e traria à tona a paranóia do casamento, a preocupação com o relógio biológico e todas as inquietações da instável idade balzaquiana. Malu encontra a peça que faltava para fechar o quebra-cabeça da vida, mas descobre que ao fazer escolhas certas dúvidas jamais deixam de existir.

Categorias: Humor, Literatura Nacional
Palavras-chave: amizade, amor, namoro, relacionamento, romance, sexo

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Marte? Really? Really!!!

Maratona Oscar 2016. Quando li a sinopse de "Perdido em Marte" fiquei pensando em como conseguiriam desenvolver 2h de filme com um cara sozinho em Marte. Não só fizeram como conseguiram manter a tensão todo o tempo, até para quem tem sérias ressalvas a filmes futuristas/de ficção científica, como eu.


Concorre em 7 categorias, entre elas Filme, Ator (Matt Damon) e Efeitos visuais (Marte? Really? Really!!! : ) E ainda tem a cereja no bolo: "Starman" tocando em um momento do filme, dando brecha para homenagearem David Bowie na premiação. #Oscars2016

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Hiato Odiado

Olá! Desculpem o longo hiato! Muitas mudanças nos últimos dois anos, mas que vieram cheias de trabalho e alegria! Tudo em paz. O jeito foi - e sempre é - dançar conforme a música e se ajeitar com graça ao ritmo da vida. Sabedoria que vem com o tempo...

Espero ter mais disciplina para voltar a escrever com regularidade e qualidade neste espaço. E quando não for possível, vamos de pequenas pílulas como a de hoje!

Aberto os trabalhos para a maratona Oscar 2016! No sábado começei com Tarantino, que concorre com "Os 8 Odiados" na categoria melhor trilha sonora e fotografia - limpem os respingos de sangue para verem melhor e divirtam-se! (Achei que havia lugar p
ro Samuel L. Jackson e Jennifer Jason Leigh nas categorias ator e atriz coadjuvante, mas vamos ver os outros indicados para comparar.) Filmaço! Feliz 2016, pessoal.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Dos Atrasos da Vida

Alguns atrasos na vida são inevitáveis.  Eu mesma só fui gostar de literatura na faculdade, e entender o que queria fazer da vida depois dos trinta.  Nossas escolhas estão diretamente ligadas à maturidade e ao conceito clichê do “tem que perder para dar valor”. 
Aos vinte e poucos anos eu já havia concluído uma boa faculdade, terminado a pós-graduação, tinha um ótimo emprego em uma multinacional e não estava satisfeita.  A empolgação inicial com o trabalho dera lugar a um tédio infinito, uma desmotivação absoluta. A vida corporativa era para mim um adorável mundo cão: me proporcionava tudo o que eu queria, pela mera quantia de todo o meu tempo e energia.  Eu já não era dona dos meus horários e dos meus desejos. Na verdade já não os tinha, a menos que fossem desejos produtivos, eficientes e lucrativos, a menos que fossem os desejos da empresa.
Quis então jogar tudo pro alto e ir fazer teatro.  Pedi demissão e fui estudar Nelson Rodrigues, e fazer a louca da Navalha na Carne, feliz da vida.  Plínio Marcos me encantava, mas estava longe de ser parte de um trabalho, do meu trabalho.  Realisticamente eu teria que me acostumar a viver como nômade, sem um porto seguro e sem dinheiro.  Mas eu não queria ser dona do meu tempo e dos meus desejos? “Taí”, me respondia a vida, irônica.  A vida mambembe só me pareceu interessante por um fim de semana, não para vida toda.

Tirei então um ano sabático, escrevi um livro e emendei com projetos pessoais que trouxeram duas lindas pessoinhas para a minha vida, que valem cada segundo do meu tempo.  E cuidei deles exclusivamente enquanto bem pequenininhos e dependentes.  E eles estão crescendo, cada dia precisando menos de mim, como deve ser.  Era hora de voltar.  

E hoje, circulando novamente pelo centro do Rio de Janeiro sentindo aquele cheiro forte de inseticida na portaria dos prédios, ou tropeçando nas pedras portuguesas irregulares, vejo que o novo e velho ciclo se reinicia.  Que o adorável mundo cão corporativo (que na verdade pode ser um poodle manso, irritante e obediente, dependendo de como eu o encare) me recebe de braços abertos.  Escuto os jargões corporativos, hoje modernizados mas que me divertem como há quinze anos atrás, e vejo que gosto deles, que senti falta deles.  Porque é o que sei fazer e o que faço bem feito. Às vezes é preciso tentar outros caminhos para (re)encontrar o seu caminho, o mesmo caminho.   Um atraso no percurso original, necessário para o amadurecimento e imprescindível para voltar a fazer a mesma coisa, feliz.



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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Felicidade dá trabalho

Felicidade dá trabalho.  Escutei esta frase ontem à noite, depois de um dia normal de semana: acordar cedo, levar filhos à escola, trabalhar todo o dia, voltar tarde para casa, trabalhar em casa, pôr os filhos na cama, assistir um pouco de tv, conversar, para finalmente ir dormir e começar tudo de novo no dia seguinte.  Querer participar da rotina das crianças, por exemplo, é um trabalho avassalador, mas que compensa ao ver o rostinho deles ao dormir e acordar.  Dar conta de estudar, trabalhar, ganhar o próprio dinheiro, ter sucesso profissional, um casamento feliz, amigos por perto, equilíbrio emocional, filhos fortes e felizes... não é fácil.  O dia a dia é cansativo?  É.  Viver bem é trabalhoso?  É.  Mas vale a pena.  Vale a pena quando no fim do dia o saldo é positivo.  

Escutei a expressão do “saldo positivo” pela primeira vez há cerca de um ano, de um amigo que associava sabiamente os relacionamentos afetivos à uma balança sentimental.  É sabido que na relação homem-mulher, na relação familiar e nas amizades, em todas elas, não existe perfeição.  Atritos e questionamentos fazem parte de uma convivência normal, que a grosso modo é composta de aporrinhações e alegrias.

Tem dias que o percentual de aporrinhações ultrapassa o de alegrias (às vezes ultrapassa a estratosfera).  É quando a gente percebe uma expectativa frustrada, uma injustiça qualquer, uma atitude impaciente, ou inconsequente, que leva a consequências irreversíveis.  Nesta esfera destaco com louvor o nosso infindável desejo de controlar tudo ou agradar a todos – definitivamente o atalho mais curto para a decepção!

Tem dias nos quais você está cansado demais para qualquer coisa, até para se aporrinhar.  Fique atento se você chegou no ponto de não se importar, das mazelas da vida a indiferença é a mais cruel.  

Mas tem dias em que as alegrias são maiores.  É quando temos saúde, sentimos o amor ou simplesmente rimos até chorar.  Trata-se de matemática e proporção. Saber dar a importância certa aos acontecimentos da vida é o caminho inteiro para a felicidade.  Releve as besteiras e só queira saber do que pode dar certo.  O que importa é que no fim do dia, do mês ou da vida, o saldo seja positivo.  Ou promissor.  De crescimento, conquistas e, principalmente, alegrias.



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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Tradição de Natal



Parece que foi ontem que na grande e velha casa da Av. Rui Barbosa, em Friburgo, meu irmão e eu ficávamos à espreita de Papai Noel no corredor.  Dia desses passei pela mesma avenida e fiquei triste ao ver apenas o terreno da construção.  A casa foi ao chão para dar lugar à expansão do Ministério Público do Rio de Janeiro na comarca da cidade. 

Parei alguns instantes em frente a casa, fechei os olhos e vi.

Sobre uma das mesas da sala estava a árvore branca de Natal, decorada com bolas vermelhas - das de vidro, que quebravam.  Muitos presentes ao redor.  Naquela época a vida era mais farta, pelo menos aos meus olhos de criança.

Com o dia regado à torta de maçã, castanhas, amêndoas, nozes e todo tipo de fruta, a ceia com a dupla infalível de perú e tender - crajejado de cravos, bezuntado de Karo, nadando nas frutas em calda - nem precisava ser tão abundante.  

Os homens da família reclamando do show do Roberto Carlos, e as mulheres o defendendo... ele é o Rei, bichoE comiam e bebiam, muito e bem. Vinha a troca de presentes, os abraços, o amigo - ora oculto, ora secreto, como em toda família de cariocas com paulistas.   E finalmente chegava a hora de por os sapatinhos no corredor, para em cada um deles, no dia seguinte, encontrar os presentes deixados pelo misterioso velhinho. 

E nadar no mar de papel de embrulho, rir do passa ou repassa dos presentes-bomba, do medo da balança, da ressaca. Vinha o riso das lembranças, a confraternização.  Exatamente o que se espera do Natal. Todo ano, tudo igual. Como uma tradição deve ser.  


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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O Menino e o Helicóptero






O menino puxa a cordinha e vai o helicóptero pelos ares.
Em seu sorriso as janelas se abrem para o céu.
Em seu coração uma aura de pureza.
Voa helicóptero, voa.

Como é doce a vida!
Quero correr,
Quero voar,
Quero viver.

Como é o mundo?
Voa helicóptero e descobre.
Vai sem medo.
Sem medo de cair.
Viu como foi longe, tio?

Longe... Muito longe.

Paulo Luz



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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A diferença entre Conto, Crônica e ganhar 1 milhão de dólares



Você sabe a diferença entre Conto e Crônica? 

O Conto é uma narrativa em prosa breve, uma pequena estória com começo, meio e fim. Costuma ter um único elemento predominando na estória toda: um cenário, um tempo, um sentimento. Possui poucos e bem detalhados personagens, que atuam em situações breves e bem demarcadas. Os diálogos são curtos e objetivos, com pouca narração. É mais complexo do que a crônica, mas não tem nenhum tipo de limitação de linguagem, o que é exigido ao escrever para jornais, por exemplo. A abertura é curta e esclarecedora, o fluxo das informações dadas é contínuo e normalmente tem apelo dramático. Na introdução já é apresentado o conflito principal da estória, quase o clímax, o que em outros gêneros narrativos vem no final, que é sempre imprevisto e surpreendente. 

A Crônica é uma criação brasileira! Sim, é um gênero de caráter exclusivamente nacional: “No momento em que a imprensa brasileira se afirmou, os folhetins da França nela se aclimataram, floreceram e encontraram uma feição de tal maneira própria, que fez muitos críticos contemporâneos afirmarem que a crônica é um fenômeno literário brasileiro” – Bender e Laurito, 1999. A crônica é uma estória curta com fundo de humor e ironia sobre fatos triviais, insignificantes. É produzida para a imprensa e por isso é regida por suas regras e limitações, utilizando um espaço sempre igual, que facilita a identificação entre escritor e leitor. (Helloooo!!! : )

Onde está o 1 milhão de dólares?  No bolso da mestre contemporânea dos contos Alice Munro, canadense de 82 anos que acabou de ganhar o Nobel de literatura deste ano! “Uma documentarista profunda, mas compreensiva, do espírito humano”. Com 4 obras já editadas no Brasil, vale o nome na lista de próximas leituras!


Alice Munro


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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Das entrelinhas






"Nas entrelinhas é que dizemos.  Bom terapeuta é o que escuta o que omitimos." - Padre Fabio de Melo

E o bom parceiro(a) também.


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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Molho inglês


O ser humano tem uma tendência inata a contestar o novo, talvez por preguiça. É sempre mais fácil por para tocar uma música que já sabemos gostar do que aquela que desconhecemos e podemos vir a não gostar.  Alguns amigos meus não escutam o novo absolutamente, simplesmente seguem a linha do “não provei e não gostei”.  Se for pop então, nem pensar.  (Qual é o problema com o pop? Uma coisa só é popular quando agrada a muita gente e se agrada a muita gente por que tanta má vontade?)  Claro que não devemos gostar de uma música só porque muita gente gosta, mas give a chance to peace and to the new. 

Música é igual comida: mesmo com cara feia, experimente.  Não vai te custar nada. Se for ruim você sempre poderá cuspir, ou simplesmente não ouvir de novo.  No site da Billboard há boas opções do que tem tocado de novo pelo mundo, e não raro encontra-se sons legais como Somebody I used to know do Gotye, Blurred Lines do Robin Thicke e Mirrors do Justin Timberlake.  Às vezes é libertardor esquecer os rótulos e gostar apenas do objeto, também na música.

Mas clássicos são clássicos e justificam a razão de serem ouvidos um milhão de vezes antes de partimos para o playlist das novidades.  Nada melhor do que um clássico para trazer de volta a boa vibração de um momento: estórias engraçadas, amores, desamores ou só uma nostalgia gostosa. E música boa é como arroz com feijão: um prato que você tempera à sua maneira, de acordo com o seu momento, te satisfaz e nunca sai de moda.  

Tenho notado uma forte tendência britânica em meu setlist ultimamente, coroada este fim de semana com Easy Lover, do Phil Collins (executada no barato umas 10 vezes de sexta à tarde até a manhã de hoje). O bom e velho Phil Collins, minha gente, tradicional como uma batata inglesa!  Algum dia batata vai ser ruim? Jamais.  Junte a ele The Smiths, U2, The Police, The Who, Radiohead, Queen, Coldplay e os batatões Beatles e Stones.  Sem dúvida o tempero que mais tenho usado ultimamente é o molho inglês. Boa semana!


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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Que deselegante! - Das cafonices não permitidas


Hesitei muito antes de escrever sobre este tema, pois está diretamente ligado ao gosto das pessoas e gosto não se discute.  E eu aceitei não discuti-lo até a pacata manhã de hoje quando vi uma senhorita com algo próximo a uma revista em quadrinhos estampada nas unhas.  Com boa vontade tentei  entender a “proposta”  e me veio a cabeça tropicalismo, carnaval e Van Gogh.  

Tem certas coisas que não se usam.  Não se você quer o mínimo de elegância e classe na sua vida.  Tem coisas que por mais fofas que sejam não ficarão bem em nenhum ser vivo com mais de 30, 18, 16, 12 anos.  Unhas decoradas, por exemplo. Não.  Mil vezes não. Nem mesmo se a sua manicure tem talento para desenhar com precisão a Hello Kitty do tamanho de um grão de arroz. Colar bolinha, estrelinha, coraçãozinho e alto-relevo de qualquer tipo muito menos. Purpurina está liberada em Fevereiro. Amarelo ou verde nas unhas só de quatro em quatro anos, na Copa do Mundo.  Unhas gigantes nem pensar,  é antiquado e anti-higiênico!  Não estou dizendo que as cores devem ser necessariamente sóbrias, mas podemos lançar mão de um vermelho, uva, vinho, rosa, tons metalizados, neutros e tantas outras cores lindas sem cair na cafonice.

Passemos à maquiagem.   Aqui também vale ficar longe das purpurinas, estrelinhas e afins.   A menos que você seja o Pablo, do Qual é música?, nada de decalques, por favor!  É o seu rosto, não seu trabalhinho pré-escolar.  De novo, seu mundo pode ser colorido. Colorido E elegante. Mas assim como na vida, uma coisa de cada vez.  Se quer muita cor no rosto, lance mão de cores mais neutras (que sempre serão chiquérrimas) na roupa, vair ornar melhor.

A produção está pronta, então falta o perfume.  Para o dia a dia não precisa ser caro. Temos a sorte de ter ótimos produtos nacionais que não deixam nada a desejar aos importados (não valorize só o que vem de fora, ostentação também é cafona). Basta que a fragrância seja adequada ao horário.  Seu colega de trabalho não merece passar a manhã inteira nauseado com o perfume forte com o qual você arrasa na balada, que deselegante! Em linhas gerais, vá de cítricos pela manhã e doces para a noite.

Com tudo pronto você tem vontade de tirar aquela foto legal, né? Temos o Instagram & cia para nos fazer parecer ainda mais belas! Um sombreado aqui, uma clareada ali... Aumenta o contrastre para bronzear, diminui o brilho para matificar, enfim, recursos infinitos!   Só te peço uma coisa: fique longe das molduras de frufrus...



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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

It's only rock 'n' roll (but I like it)

Há 51 anos na estrada, The Rolling Stones é uma banda que dispensa apresentações e vai muito além do I can't get no satisfaction que todos conhecem.  Além da qualidade do conjunto da obra, impressiona a capacidade que Mick, Keith, Charlie e Ron ainda têm de fazer um som de estúdio ao vivo.

Para quem não conhece muito dos garotos ingleses, vale começar pelos clássicos Jumping Jack Flash, Start me up, All down the line e Gimme Shelter - esta última trilha incidental da cena inicial antológica, emblemética e arrepiante de Jack Nicholson em The Departed ("Os Infiltrados", versão cinematográfica norte-americana dirigida por Martin Scorsese e ganhadora do oscar de melhor filme em 2007).

Na coletânea de momentos memoráveis, encontrei uma apresentação de Satisfaction em que Keith Richard dá uma guitarrada em um maluco que invade o palco e vai para cima dele.  O som da guitarra some por alguns instantes, a banda segue, Mick Jagger continua cantando e rebolando (observando o maluco), e o vídeo vai parar no Crossfire Hurricane, trabalho comemorativo de 50 anos da banda. Vale conferir a cena:


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