sábado, 31 de julho de 2010

Os Maias

Um trechinho do livro novo!

"(...) A única coisa boa desse passeio foi ter encontrado a Consuelo. Consuelo trabalhava na lanchonete do parque, mas por algum motivo naquele dia estava brincando com as crianças no teatro de fantoches. Começamos a conversar, ela comentou que tinha interesse em sair dali, eu comentei que tinha interesse em arrumar uma “muchacha” e algumas referências depois ela estava instalada em minha casa. Consuelo era Maia.

Os Maias habitaram as florestas tropicais do Norte da América Central no século IV a.C., região onde hoje é a Guatemala e Honduras, e o sul do México, onde hoje é a Península de Yucatán, formando uma região de grande riqueza cultural e diversidade étnica. Poucas pessoas sabem que para cada pirâmide egípcia foram construídas dez pirâmides Maias.

Consuelo tinha os traços típicos dos Maias. Era baixa, de pele escura amorenada e um nariz alongando que quase sobressaía entre os olhos. Não pude deixar de perguntar o porquê de ela ter me contado, ainda em nossa primeira conversa, sua origem. Porque nuestro pueblo aún vive. No somos índios - respondeu ela. Chamar alguém de índio no México é extremamente ofensivo. É como dizer que se trata de um bronco, de um animal. Consuelo queria apenas respeito, desde o princípio. Contou-me que ao contrário do que muitos pensam, os Maias não desapareceram por completo com a chegada dos colonizadores europeus ou com os frequentes combates internos entre os demais povos da terra, como foi a tomada da região pelos Toltecas, no séc. IX. Muitos Maias ainda viviam da mesma forma em que os encontraram os espanhóis, em 1697: em pequenas cabanas coberta de sapê, mantendo a tradição de seu velho modo de vida. Eles viviam em harmonia com a natureza e com a invasão por seus algozes perderam grande parte do que tinham de mais valioso: a identidade cultural. O dialeto Maia sobrevivera infimamente, como escutei casualmente meses depois em uma ida ao supermercado. Algumas das cidades mais elaboradas do continente haviam sido construídas pelos Maias, que em seu tempo inovaram em inúmeras áreas além da matemática, astronomia, arquitetura, a escrita e principalmente a ciência do México antigo. (...)


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sábado, 3 de julho de 2010

Férias? Há controvérsias

Quase sempre quando uma mãe de família viaja assume-se que ela está saindo de férias. Ela deixa sua casa onde há uma rotina estruturada, escola para o filho mais velho, babá para o mais novo. Mesa posta para o café da manhã, mamãozinho cortado e café passado. O almoco sai na hora certa, num piscar de olhos, bastando dizer à sua amada empregada o cardápio do dia. Até que o marido chega em casa com o que, a princípio, parece uma grande a idéia: vamos viajar? Rever a família, rever os amigos, ir à praia, subir a serra, pular carnaval? Vamos!

A maratona comeca antes mesmo do embarque. Arrumar as malas de duas criancas pequenas é praticamente uma viagem, já que uma mãe precavida precisa passar por todas as estações. Ao pai, muito prático, só resta reclamar do excesso de peso. Pega as malas, pega o carrinho, pega mamadeira. Leite, suquinho, biscoitinho, remedinho, brinquedinho. Tensão na hora de pesar as malas: vão cobrar excesso de peso? E a mala de mão que só não é vetada por boa vontade das comissárias.

Chega-se na casa da avó, onde empregada normalmente passa batida já que o movimento é pequeno e a dona exigente (com razão, ela já sabe fazer tudo e tem tempo para isso). Toca lavar roupa, estender, passar, guardar. Vê o almoço, dá comida pras crianças, recusa aquele choppinho-abre-apetite com os cunhados às duas da tarde porque simplesmente não combina com o horário dos filhos. E pra não ficar feio, ainda lava a louça e os 250 copos, colheres e pratinhos que seus filhos sujaram.  Escova as duas boquinhas (três se você tiver tempo de escovar a sua própria), põe pra dormir o mais novo, arranja atividade – silenciosa – para o mais velho. Tenta almoçar com calma, encosta no sofá para descansar e quando começa a pegar no sono, escuta: Manhêêêêêê! Se não for o pequeno chamando, certamente ele já acordou com o grito do outro. O importante é manter a mamãe em pé, não é mesmo?

Vem a maratona do banho, água pra todo lado e o cabelo escovado que vai pro espaço. Brinca, janta, põe pra dormir. Reza, conta estória, perde a novela, reza de novo para eles dormirem pelo amor de Deus. Cinema, shopping, restaurante? Só se uma boa alma se oferecer para ficar com as crianças, e aí vem a arte de depender dos outros. Mais difícil ainda se esses outros também se acham no direito de educar seus filhos. Escuta quieta se quiser passear...

Viajar? Nem pensar. Minha casa nunca foi tão confortável. E para aqueles que insistem em perguntar se vou tentar a menininha: só se ela nascer com 18 anos, lavar, passar e tomar conta de criança!


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