quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O lado irônico de ser mãe

Depois de muito batalhar para encontrar o homem de nossas vidas (que em muitos casos talvez nem é) e casar-se com ele, a mulher finalmente engravida. A emoção vem como uma enxurrada descoordenada ao ler aquela simples palavrinha: positivo.  Conta para o pai, que na maioria das vezes vibra e chora junto de alegria! Conta para os avós-corujas que aguardavam ansiosos pelo netinho! Espera três longos meses, com a língua coçando, para contar para os amigos, o chefe, o vizinho, o mundo: o bebê vem aí!

Procura obstetra, às vezes até um pediatra, tudo tem que ser programado, planejado, cuidado. Não bebe, não fuma, às vezes nem transa. Cuida da alimentação, não come na rua, não come porcaria. Faz exercício, mas não demais. Sai à noite, mas volta cedo. Trabalha, mas enrola... Sua cabeça está dentro da barriga e nada pode mudar isso. Compra livros e revistas, fuça na internet, nunca se teve tanta informação a respeito. A barriga cresce, começam os preparativos práticos para a chegada do indivíduo. Toca comprar móveis, lavar roupa, passar uma a uma, guardar cuidadosamente nas gavetinhas forradas.

A criatura nasce. Ninguém toca, ninguém chega perto, a gente vira bicho. A amamentação é outro parto (e ninguém avisou). Põe para passear no sol. Não pode tomar vento, não pode pegar chuva, o sol deve ser fraco, não pode fazer frio. Alguém tem o e-mail de São Pedro?

Cuidados no banho. Cuidado com o umbigo, por que ele não cai? Faz curativo, senão ele fica para fora! Levanta o braço para não afogar a criança. Seja rápida para não resfriar. Escolhe a roupinha. Está suando, tira roupa. Mãozinha fria, põe o casaco. Cobre? Não, ele sufoca. Descobre? Ele pode sentir frio. Liga o ar ou abre a janela? Qual a temperatura ideal? Para os bebês-meninas, decide a mãe. Para os meninos, o pai.

Quando tirar aquela coisa gorducha e chorona do nosso quarto? Nunca se sabe, e ele vai ficando até os três, quatro meses no barato. Enfim, vai pro quarto dele. E tome babá eletrônica pra cima e pra baixo. Começa com as papinhas. O que solta? O que prende? Porque ele não faz cocô, Deus do céu! Supositório no coitado.

Rola na cama, senta, um dia entramos no quarto e ele está de pé. Põe pra engatinhar. Compra piso emborrachado, lava o tapete, limpa o chão duas vezes por dia, obriga os pobres dos visitantes a tirarem seus sapatos na porta, esteriliza a casa! Começa a andar. Compra sapatos, compra andador, compra motoca de empurrar, sob nosso olhar atento ele quer descobrir o mundo. Um belo dia você chega em casa e diante de uma cena simples percebe que sua superproteção expirou. O seu filho, aquela criança linda, saudável, rosadinha e limpinha... está lambendo o chão.


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