segunda-feira, 17 de julho de 2023

Se você quer o sétimo céu, vai ter que subir degrau por degrau

 

Já dizia Leo Jaime. Hoje parada num sinal de trânsito ao ouvir o refrão desta música no rádio lembrei do que me disse um cartomante há vinte anos atrás, quando perguntei se daria certo escrever, atuar, trabalhar com arte.  Muito charlatanamente ele me respondeu que só dependia de mim, que eu tinha todas as ferramentas para isso mas o quanto de esforço eu dedicasse é que determinaria o meu sucesso. Logo depois de ele dizer também que havia  “um trabalho” direcionado para minha vida pessoal, e que por vinte reais ele poderia neutralizar tal mau agouro, eu saí pensando em quanto está exclusivamente na nossa conta o sucesso de qualquer empreendimento.

Existe uma combinação de sorte, pré-disposição e oportunidade para as coisas acontecerem.  No meu caso, olhando minha linha do tempo constatei que nunca consegui reunir de forma consistente e simultanea estes trê elementos com a finalidade de escrever. Peguei a sorte para formar uma família, aproveitei a oportunidade para voltar a trabalhar quando os filhos já estavam menos dependentes. A pré-disposição vem em doses periódicas não regulares, como vocês podem ver pela esporadicidade das postagens deste blog. Arquei com as consequências profissionais destas escolhas – algum atraso em evolução profissional se comparado aos meus pares de início de carreira - mas os ganhos pessoais compensaram.

Por um excesso de pragmatismo rapidamente coloquei o hábito de escrever na prateleira do hobby, que fazemos quando dá, sem obrigação – o que é até coerente, já que para escrever precisa inspiração, que não vem na marra. Mas “a inspiração precisa te encontrar trabalhando” (sábio Picasso). A sorte precisa te encontrar trabalhando. O talento precisa te encontrar trabalhando, seja ele para o que for.  E por trabalho entenda-se uma sucessão de esforços contínuos em todos os aspectos da vida.

É extenuante, é cansativo, é desafiador. Ser feliz continua dando trabalho (reparem que tem um post de 2014 com este título). Dá um trabalho danado e requer manutenção. Se for preventiva ainda melhor (a reativa costuma ser bem mais dolorosa). Requer cuidado. Requer agilidade, somos uma máquina que muda rapidamente. Requer mais do que tudo perceber estas mudanças inerentes ao comportamento humano. Mudamos nossos lugares preferidos, nossas pessoas favoritas, nossos quereres... E de tudo que dá trabalho talvez o mais difícil deles seja identificar as mudanças, saber quando aceitar, quando negociar e quando se adaptar a cada uma delas. Se o Leo acertou no refrão, talvez tenha errado no título da música. Tudo muda, o tempo todo.