sexta-feira, 5 de julho de 2013

Das redes sociais

Há algum tempo ando tentada a escrever sobre o comportamento das pessoas nas redes sociais.    Não só pela logística da ferramenta me fascinar, mas por constatar que a rede de contatos diz muito sobre quem somos.  Os amigos são o resultado mais concreto de por onde você andou, como viveu e provavelmente vão influenciar diretamente a sua forma de pensar.

Na minha lista de amigos, por exemplo, 10% atuam na área biológica (médicos, enfermeiros, veterinários, fisioterapeutas). 13% atuam no que chamei de “áreas diversas” (fotógrafos, comerciantes, músicos, pilotos, esportistas). 18% atuam em humanas (advogados, jornalistas, publicitários, psicólogos, educadores). 26% são estudantes, do lar ou malucos que conhecemos por aí e podem estar fazendo qualquer coisa neste momento. 33% eu classifiquei como pertencentes ao mundo corporativo (engenheiros, profissionais de TI, marketing e administração).  Fora a porção de estudantes e malucos que não se encaixam em nenhuma categoria, os dois maiores percentuais se assemelham à minha formação: 18% tiveram a mesma base acadêmica e 33% convivem no mesmo ambiente profissional.  Embora as redes sociais não devam em absoluto ser fonte de informação, não podemos menosprezar (visto os últimos acontecimentos no país) seu poder de influência e mobilização. Assim que, a grosso modo, é o meio desse percentual maior de amigos que vai determinar os pontos de vistas de maior interesse para a sua realidade, influenciando diretamente a sua forma de pensar.

Outra coisa que chama minha atenção é a questão dos amigos em comum.  Você tem 80 amigos em comum com uma pessoa que estudou contigo no jardim de infância e você não vê há 25 anos, e apenas 20 amigos em comum com aquela parceira da faculdade com quem você viveu colada nos últimos 10 anos e sabe tudo da sua vida. O que me sugere que embora símbolo de modernidade, a rede social veio também para resgatar o passado.  Ao olhar parte da lista de amigos a sensação é de abrir o livro do ano da escola – Yearbook (daí o conceito do nome Face book), ou abrasileirando, ver a nossa foto de turma.  E sem sair de casa, sem marcar um encontro, interagindo sem interação, você tem a chance de ver aquelas pessoas hoje.  Não só ver, saber.  Saber como estão, se o tempo foi cruel ou bondoso com elas.  Com quem se relacionam, como é sua ligação com a família, seus hábitos, em que trabalham, que lugares frequentam.  Em alguns casos podemos saber bem mais do que isso: o que comem, quando se exercitam, para onde viajam, com quem saem, sua filosofia, se a sua vida é um mar de felicidade ou de revolta.

As tribos na rede social são fácilmente identificáveis. Há os que só comentam política. Os que só falam do trabalho. Os que respiram futebol. Os que vivem exclusivamente para os filhos. Os que estão ali só para se divertir com superficialidades. Os que acham que não estão se expondo postando e curtindo mensagens subliminares (ou não) de filosofia de vida. Os que fazem de tudo um pouco. Os que dizem tudo e quase sempre não dizem nada com grandes frases de efeito. Os que se vangloriam de sua liberdade, de sua atribulada agenda, de sua independência emocional, mas tristemente não se desligam nem nos fins de semana, ou na presença real de amigos e família, vivendo conectados permanentemente em um relacionamento sério com o computador ou celular. Poucos são os que postam mensagens do que estão pensando, quando a pergunta é justamente essa: “No que você está pensando?”. É incapaz de puxar papo com uma pessoa que lhe interesse para não parecer interessado, mas curte todas as vírgulas que ela posta. Postar 3000 fotos de si mesmo, dos lugares onde está ou do que está comendo não é exposição, mas de uma idéia que lhe passou pela cabeça, é. 

Também vejo a imagem da felicidade soberana e absoluta na rede. Compreensível.  Se no mundo real não expomos nossas fraquezas e não queremos despertar pena ou consternação, por que expô-las em uma rede virtual?  Então esbarramos em outra questão: o que expor?  Seu trabalho? Sua arte? Seu gosto musical? Suas conquistas? Seus filhos? Seu relacionamento? Sua carência de relacionamento? Sua visão política? Sua filosofia de vida? Sua satisfação ou insatisfação com o que quer que seja? Sua beleza em frente ao espelho? E para cada uma dessas perguntas você conhece pelo menos uma meia dúzia de amigos que responderia “sim”. E você muitas vezes critica quem expõe tudo isso, mas também se expõe.  Porque em algum nível sempre há exposição, a menos que você seja um voyeur.  E não poste nada, nunca. De forma alguma imponho aqui tom de crítica, o que definitivamente não é. Aceito e principalmente me divirto, com todas as cabeças pensantes (umas mais, outras menos) que habitam o meu mundo virtual. Até porque só criaram o botão “curtir”, não o “julgar”.


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