segunda-feira, 5 de março de 2012

O significado da cama de casal

Há alguns dias atrás, conversando com recém-casados eu escutei - pela quarta ou quinta vez na minha vida - que a primeira providência da mulher ao dividir o teto com o marido foi trocar a cama de casal que veio do apartamento de solteiro dele.  Trocar o colchão eu até entendo, pelo que pode esbarrar numa questão de higiene, mas a cama?  A cama de casal é mesmo a campeã de audiência no quesito “vou limar todas as lembranças do seu passado” - como se as lembranças estivessem na cama, e não na cabeça dele. 

Até que ponto objetos carregam histórias? Não são poucas as pessoas que vão a determinados lugares e sentem uma energia diferente, ou sentem que já estiveram ali sem nunca ter estado. Há quem explique isso com as vidas passadas, eu já acho que é simplesmente a estória do lugar gritando por si só.

E quando visitamos um lugar em que estivemos pela última vez quando ainda criança? Encolheu, né? Não, não era absurdamente maior como a gente pensava, nós é que éramos pequenos. Nós é que trazíamos o olhar fantasioso de criança, que invariavelmente vê muito mais e maior do que a realidade. Ou indo ainda para outro extremo, quando visita-se o túmulo de alguém no cemitério, vem à cabeça as imagens e memórias da pessoa viva ou o por que diabos ela já foi parar ali embaixo?

Tudo está cheio de história e são muito poucos os objetos e lugares vazios. Objetos vazios são apenas os objetos perdidos, cuja história pode ser desconhecida mas não inexistente. Lugares vazios eu desconheço. Os lugares, mais do que objetos, irradiam ainda mais fortemente sua estória. Quem viveu ali, ou passou por ali, que sonho teve, que legado deixou. E de repente faz mais sentido aquelas famosas três coisas para se fazer em vida: ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore.

O filho vai dar continuidade à sua espécie, à sua vida (curiosamente ainda que pela vida de outra pessoa). O livro é o que vai ficar de mais concreto de sua essência, perpetuando sua forma de pensar. E a árvore é a sustentabilidade de tudo isso, para muitos o “politicamente correto” que vem lá de trás, quando não precisávamos ser politicamente corretos, quando apenas bom senso bastava.


XXX



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