terça-feira, 26 de julho de 2011

Verdade ou mentira

Muitas vezes me perguntam se o que escrevo é auto-biográfico. A resposta é não. Mas é impossível escrever sobre algo que não conhecemos. Todo texto é um pouco biográfico. Pode não ser sobre a vida do autor, mas é necessariamente sobre a vida de alguém, é necessariamente sobre algo. As idéias sempre vêm de algum lugar.

A inquietude das obras de Clarice Lispector reflete a personalidade densa e aflita de uma pessoa que, segundo os que a conheceram pessoalmente, era reservada e discreta.

O que dizer de Machado de Assis, cuja genialidade passeava serelepe entre Romantismo e Realismo, polemizando rótulos quanto à classificação de sua obra? Ele criticava mesmo o determinismo, e nunca se esforçou para esclarecer personagens ou situações contadas.

Eça de Queiroz. A primeira lembrança que me vem à cabeça de Eça de Queiroz foi a impressão de um colega de faculdade sobre seus textos: Ele passa cinco páginas descrevendo uma sala! Verdade. E o talento era tanto para este fim que mesmo os mais objetivos seres se deixaram seduzir por tais descrições.

Em Literatura nem sempre os fatos importam. Se é verdade ou não, muito menos. Importa a maneira em que a estória é contada. Se é real ou não, de onde vem, cabe a você imaginar.



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quinta-feira, 21 de julho de 2011

O que as mulheres conversam no banheiro

Conversa adaptada entre duas amigas no banheiro de uma boate.

- O Marcelo não me ligou. Mas mandou uma mensagem dizendo que quanto mais eu mando mensagens malcriadas pra ele, mais o afasto de mim.

- E você respondeu o que?

- Pedi desculpas.

- Desculpas??? De quê?

- Das mensagens malcriadas.

- Não foram tão malcriadas assim...

- “Atende essa merda deste telefone” é ser malcriada na minha concepção.

- Mas no contexto...

- Enfim. Tá difícil, mas vou resistir. Às vezes me pego pensando: como um cara baixinho, gordinho, feinho, fudido de grana, que nem manda tão bem assim na cama, pode me deixar assim?

- Porque na nossa idade somos muito mais sensoriais do que visuais. O que nos seduz hoje é muito mais a inteligência, a postura, os argumentos... do que um corpo malhado e a cabeça vazia. Juntando isso àquela incerteza do querer do outro, que paradoxalmente nos faz ficar ainda mais interessada, pronto. Fudeu.

- Mas até ontem eu não dava a mínima pra ele...

- Se ele estivesse igual a um capacho ao seu pé, você continuaria cagando pra ele - como tava no início, que eu lembro. Mas como ele se valorizou, e te seduziu, dominou a situação. Ainda que sem querer.

- Sem querer? Até parece...

- Eles são patetas a este ponto, acredite. A maioria desconhece o poder que tem...

- O que você faria no meu lugar?

- Não sei... Em uma situação parecida, resolvi bancar a boba. Quando ele quer falar, eu falo, numa boa. Mas não o procuro mais. Se ele quiser passar a vida inteira brincando de jogar conversa fora - que é o que parece – tudo bem. Eu vou corresponder até onde der, pois não é sacrifício nenhum conversar com um cara que me atrai, que eu admiro. Mas não vou alimentar expectativas em relação a ele, dentro do possivel...

- Dentro do possível. Tá vendo?

- Tô. Ninguém é perfeito.

- E vai fazer o que então?

- A princípio nada. Mas se necessário, sigo 3 premissas:

1) “Falar menos”. Não definir, não explicar, deixá-los no escuro. O mistério seduz e interessa (e nos deixa menos propensas a fazer merda).

2) “Cara de paisagem”. Essa é dificil, mas essencial. Diante de situações adversas, nada de mandar mensagens de fúria atestando: To louca por você, seu vacilão. Ele vacilou? Vacilou. Você percebeu? Lógico. Vai admitir? Nem morta!

- Ou seja, ele vai aprontar e você vai deixar barato?

- Você gosta dele, vai ficar com ele de qualquer forma, não vai?

- Mais ou menos.

- Mais pra mais do que pra menos. Então pensa: Você mostrar que percebeu que ele fez merda e ficar com ele assim mesmo, é dizer: Eu aceito você pisar na bola de vez enquando. Mas você fingir que não percebeu, é dizer: Tenho mais o que fazer e nem notei o que você anda aprontando. (O que além de tudo leva aquela "incerteza do querer" que falei, lembra? Que faz qualquer ser humano QUERER).

- Continue.

- E finalmente, o número 3): “Substituição e leads". Amor com amor se apaga, nada mais certo do que isso. Não deu certo com azul, tenta o vermelho. Ficou esquisito com verde, parte pro amarelo. E tenha sempre toda a caixa de lápis de cor à sua disposição...


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