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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Tatuagem é ansiedade

Segundo a Wikipedia, "ansiedade, ânsia ou nervosismo é uma característica biológica do ser humano, que antecede momentos de perigo real ou imaginário, marcada por sensações corporais desagradáveis, tais como uma sensação de vazio no estômago, coração batendo rápido, medo intenso, aperto no tórax, transpiração etc".

Só com esta definição já daria para escrever um compêndio, mas vamos por partes.  O que mais me chamou atenção na explicação acima foi a antecedência do perigo imaginário.  Em pelo menos 70% das vezes, no meu caso e com um percentual benevolente, o "perigo" é de fato imaginário, e as sensações biológicas diferentes: sensação de vazio na alma - não no estômago, inquietação inconsciente, impaciência extrema e azedume crônico.  Quem nunca?  Por muito tempo não identifiquei nenhum destes sintomas como ansiedade, julgando ser causa a insatisfação com a vida profissional, com a vida pessoal ou com o pão que insistia em cair com a manteiga para baixo.  Pareceu-me claro que a razão não podia ser tão pontual ou besta assim, e comprovei isso à medida que fui me satisfazendo profissionalmente, pessoalmente e não me incomodando tanto com besteiras.

Na minha humilde filosofia de chuveiro, que segundo Fred Elboni (@entendaoshomens no Twitter) "serve para pensarmos na vida e ensaiarmos diálogos que nunca serão ditos", concluí que ansiedade é igual hipertensão: uma doença silenciosa e muitas vezes difícil de diagnosticar.  Não satisfeita em identificar e tratar (há controvérsias) a minha, fui reparar na ansiedade alheia.

A única forma de identificar a ansiedade no outro é observar seu comportamento.  Mulheres normalmente são mais ansiosas por conta da vida sentimental.  Homens por conta da vida profissional (há controvérsias).  O que a mulher faz quando está ansiosa?  Se você pensou "merda", pensamos juntos, mas não, não é bem assim.  Caímos mais no ato vazio do que no ato errado propriamente dito.  Na solidão, por exemplo, tendemos a impor a necessidade de ter alguém legal ao lado para estar plenamente feliz.  E até esse alguém legal aparecer, vamos saindo com um alguém qualquer, até os errados.  Ou trabalhamos feito loucos. Ou saímos desesperadamente para não encarar a casa vazia na sexta-feira à noite.  Ou compramos compulsivamente. Ou malhamos exaustivamente. Ou nos tatuamos.


A tatuagem me parece um ótimo exemplo de ansiedade, ou melhor, de contimento de ansiedade, já que aplaca a ânsia de fazer alguma coisa forte e definitiva.  E falo com propriedade (e não com crítica) pois tenho uma tatuagem.  Tenho uma única tatuagem, tribal, que fiz lá pelos 26 anos e que não significa absolutamente nada (ok, alguns dizem que significam crenças que determinados povos seguem, mas garanto que a maioria nesta época guiou-se apenas pelo senso estético).  É a fase em que temos pressa para tudo.  De crescer no trabalho, de ganhar dinheiro, de viajar, de gastar, de comer, de emagrecer, de ser incoerente, de ser amado, de ser feliz.  Queremos tudo ao mesmo tempo agora e para ontem!  E o que eu fiz? Uma tatuagem.  Que não mudou em nada meu então estado profissional, sentimental ou físico, mas mudou o psíquico.  Porque, por algum motivo, aplacou a vontade de sair da inércia, de não ficar de braços cruzados, de ver alguma coisa importante acontecer - e quer algo mais importante do que o permanente?  Fora a rebeldia associada, beeeeem antigamente, com a presunçosa idéia do "quero chocar o mundo" - como se desenhar no próprio corpo devesse ter alguma interferência no outro...


Não me arrependo de ter feito, pois tive a luz de colocá-la em um lugar discreto, que pouco vejo.  (Nada contra quem tatua até a testa.  Particularmente só não gosto mais de coisas tão definitivas assim). Mas me arrependo de não ter escolhido melhor o desenho que passaria o resto da vida comigo.  Que pelo menos tivesse um significado, ora essa.  Então, há alguns anos, em um surto de necessidade de dar sentido às coisas, pensei em transformar a tribal em uma iguana (bastaria desenhar uma cabeça estilizada inclinada na ponta superior). Seria uma homenagem ao México, uma pátria que me acolheu por anos e por qual tenho infinito carinho.  Mas parei, segurei a vontade de querer achar sentido em tudo, acalmei a mente, pensei bem e vi que era só ansiedade.

XXX