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sexta-feira, 4 de março de 2022

Frenesi social

 

Eis que volta a haver tempo para produzir algo não relacionado ao trabalho. Pensei comigo esses dias: vou dar uma olhada no blog e rir do que escrevi no passado. Comecei rindo da sessão “Sobre mim”.  Para quem se diz inconstante, a descrição que estava lá durou bastante tempo: 16 anos!  Pouco mexi na atualização que fiz hoje.  Por mais inconstante que seja uma pessoa a essência dela tende a ser a mesma por toda a vida.

Estamos experimentando uma guerra neste exato momento, que espero com fé que não se prolongue a ponto de virar uma crônica aqui, por isso vou passar batida.  Gosto de amenidades (se é que o comportamento humano pode ser considerado uma, tenho dúvidas).  Experimentamos nossa primeira pandemia, que parece estar finalmente terminando.  Experimentamos 2021 como um ano de receio, celebração e redenção. 

Receio por ainda não estarmos livres da pandemia: seguimos vacinando, morrendo, vacinando de novo, aglomerando, se isolando, aglomerando de novo, reclamando da mídia vergonhosa, politizando a saúde.  

Celebração porque na menor brecha que tivemos, celebramos. Celebramos casamentos adiados de 2020, viagens canceladas, reencontros antecipados, celebramos estar vivos.  O que curiosamente fez de 2021, ainda que um ano pandêmico, um ano de encontros inesquecíveis cuja única explicação está na redenção.  Foi um verdadeiro frenesi social, tamanha a ânsia das pessoas em voltar a viver.  Se reuniram, comemoraram, riram, dançaram, beijaram. Se rendendo à natureza humana que é gregária, ainda que de máscara.

domingo, 29 de março de 2020

O dia em que a Terra parou


Quando Raul Seixas escreveu a música, ou quando o filme foi gravado em 1951, ou ainda quando o conto (Farewell to the Master, inspiração do filme) foi escrito por Harry Bates em 1940, nenhum dos autores imaginou que o mundo pararia em Março de 2020 por um vírus.  Embora a letra da música de Raul e Claudio Roberto encaixe com perfeição à realidade que o mundo vive hoje, dificilmente eles anteciparam que seríamos parados por uma força não-intencional (diferente da guerra, referência da música); ou aleatória (diferente da visita extraterrestre, referência do conto). Bill Gates sim. Bill Gates antecipou há cinco anos atrás, em uma palestra do TED Conferences, que nosso pior inimigo poderia ser um vírus. E com sua mente brilhante questionou quão (des)preparada estava a humanidade para lutar contra um inimigo que não vê.

Ironicamente nas últimas semanas vimos de tudo. De teorias conspiratórias pregando a intenção da China em disseminar um vírus para dominar o mundo aos esquerdinhas-caviar usando o bate-cabeça governamental generalizado para reafirmar seu posicionamento político. O que mais me assombra (além da estupidez humana exemplificada acima) é a velocidade com que o mundo parou e como o senso comum preponderou em uma situação como esta.  A velocidade com que todos os jornais passaram a ter uma única pauta, com que todas as publicações de redes sociais passaram a ser sobre um mesmo tema, com que todo o mundo passou a falar uma única língua, se perguntando: como vamos nos manter vivos?, é sem precedentes. Assim como estar diante de uma ameaça que não distingue classe social, onde o dinheiro não faria diferença frente a hospitais colapsados, carros sem gasolina, mercados sem comida.

De todas as formas que imaginei o Armageddon em nenhuma delas vi a humanidade lutando como hoje. É claro que tem discórdia. É claro que tem gente querendo tirar vantagem. É claro que tem gente surtando. Somos 8 bilhões de cabecinhas pensantes. Ainda assim o senso comum prevalece na resposta à ameaça. O mundo parou porque as pessoas ouviram a ciência, e a ciência disse que era preciso lavar as mãos e ficar dentro de casa. Em meio às contraditórias discussões sobre como deve ser o isolamento, o isolamento permanece. Embora ainda não façamos ideia do fim desta história, visto que estamos em uma triste curva inicial ascendente, uma nova rotina se faz. As pessoas deram seu jeito de trabalhar de casa, de se exercitar na sala, de manter seus velhinhos no quarto. De distrair as crianças, de arrumar, cozinhar e lavar sem a diarista. De brigar e fazer as pazes com a família (porque se estar encarcerado com sua solidão é difícil, com a voluntariedade de muitos também é). E devagar se começa a pensar na retomada das atividades sem perdas ao plano de contenção de contágio, porque o mundo não pode continuar parado. Diante disso vejo o copo meio cheio, lá na China, onde a curva que desce trouxe a vida de volta. E me assombro de novo com a capacidade de adaptação do ser humano.