Já dizia Leo Jaime. Hoje parada num sinal de trânsito ao ouvir o refrão desta música no rádio lembrei do que me disse um cartomante há vinte anos atrás, quando perguntei se daria certo escrever, atuar, trabalhar com arte. Muito charlatanamente ele me respondeu que só dependia de mim, que eu tinha todas as ferramentas para isso mas o quanto de esforço eu dedicasse é que determinaria o meu sucesso. Logo depois de ele dizer também que havia “um trabalho” direcionado para minha vida pessoal, e que por vinte reais ele poderia neutralizar tal mau agouro, eu saí pensando em quanto está exclusivamente na nossa conta o sucesso de qualquer empreendimento.
Existe uma combinação de sorte, pré-disposição e
oportunidade para as coisas acontecerem.
No meu caso, olhando minha linha do tempo constatei que nunca consegui
reunir de forma consistente e simultanea estes trê elementos com a finalidade
de escrever. Peguei a sorte para formar uma família, aproveitei a oportunidade
para voltar a trabalhar quando os filhos já estavam menos dependentes. A
pré-disposição vem em doses periódicas não regulares, como vocês podem ver pela
esporadicidade das postagens deste blog. Arquei com as consequências
profissionais destas escolhas – algum atraso em evolução profissional se comparado
aos meus pares de início de carreira - mas os ganhos pessoais compensaram.
Por um excesso de pragmatismo rapidamente coloquei o hábito
de escrever na prateleira do hobby, que fazemos quando dá, sem obrigação
– o que é até coerente, já que para escrever precisa inspiração, que não vem na marra. Mas “a
inspiração precisa te encontrar trabalhando” (sábio Picasso). A sorte precisa
te encontrar trabalhando. O talento precisa te encontrar trabalhando, seja ele
para o que for. E por trabalho entenda-se uma sucessão de esforços contínuos em
todos os aspectos da vida.
É extenuante, é cansativo, é desafiador. Ser feliz continua dando trabalho (reparem que tem um post de 2014 com este título). Dá um trabalho
danado e requer manutenção. Se for preventiva ainda melhor (a reativa costuma
ser bem mais dolorosa). Requer cuidado. Requer agilidade, somos uma máquina que
muda rapidamente. Requer mais do que tudo perceber estas mudanças inerentes
ao comportamento humano. Mudamos nossos lugares preferidos, nossas pessoas
favoritas, nossos quereres... E de tudo que dá trabalho talvez o mais
difícil deles seja identificar as mudanças, saber quando aceitar, quando negociar e
quando se adaptar a cada uma delas. Se o Leo acertou no refrão, talvez tenha
errado no título da música. Tudo muda, o tempo todo.
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