sábado, 3 de julho de 2010

Férias? Há controvérsias

Quase sempre quando uma mãe de família viaja assume-se que ela está saindo de férias. Ela deixa sua casa onde há uma rotina estruturada, escola para o filho mais velho, babá para o mais novo. Mesa posta para o café da manhã, mamãozinho cortado e café passado. O almoco sai na hora certa, num piscar de olhos, bastando dizer à sua amada empregada o cardápio do dia. Até que o marido chega em casa com o que, a princípio, parece uma grande a idéia: vamos viajar? Rever a família, rever os amigos, ir à praia, subir a serra, pular carnaval? Vamos!

A maratona comeca antes mesmo do embarque. Arrumar as malas de duas criancas pequenas é praticamente uma viagem, já que uma mãe precavida precisa passar por todas as estações. Ao pai, muito prático, só resta reclamar do excesso de peso. Pega as malas, pega o carrinho, pega mamadeira. Leite, suquinho, biscoitinho, remedinho, brinquedinho. Tensão na hora de pesar as malas: vão cobrar excesso de peso? E a mala de mão que só não é vetada por boa vontade das comissárias.

Chega-se na casa da avó, onde empregada normalmente passa batida já que o movimento é pequeno e a dona exigente (com razão, ela já sabe fazer tudo e tem tempo para isso). Toca lavar roupa, estender, passar, guardar. Vê o almoço, dá comida pras crianças, recusa aquele choppinho-abre-apetite com os cunhados às duas da tarde porque simplesmente não combina com o horário dos filhos. E pra não ficar feio, ainda lava a louça e os 250 copos, colheres e pratinhos que seus filhos sujaram.  Escova as duas boquinhas (três se você tiver tempo de escovar a sua própria), põe pra dormir o mais novo, arranja atividade – silenciosa – para o mais velho. Tenta almoçar com calma, encosta no sofá para descansar e quando começa a pegar no sono, escuta: Manhêêêêêê! Se não for o pequeno chamando, certamente ele já acordou com o grito do outro. O importante é manter a mamãe em pé, não é mesmo?

Vem a maratona do banho, água pra todo lado e o cabelo escovado que vai pro espaço. Brinca, janta, põe pra dormir. Reza, conta estória, perde a novela, reza de novo para eles dormirem pelo amor de Deus. Cinema, shopping, restaurante? Só se uma boa alma se oferecer para ficar com as crianças, e aí vem a arte de depender dos outros. Mais difícil ainda se esses outros também se acham no direito de educar seus filhos. Escuta quieta se quiser passear...

Viajar? Nem pensar. Minha casa nunca foi tão confortável. E para aqueles que insistem em perguntar se vou tentar a menininha: só se ela nascer com 18 anos, lavar, passar e tomar conta de criança!


XXX



2 comentários:

Brunno Leal disse...

Mas todos têm direito às férias, inclusive os seres sobre-humanos, as mães!
Adorei o texto!

Patrícia Campos disse...

Parabéns pela dupla jornada, ser mãe e trabalhar.

Todo mundo merece descanso, mesmo que dele,não seja bem o tal descanso...rsrs