Num mundo onde tudo precisa ser exaustivamente explicado, justificado e atenuado, assistir a um filme onde a audiência não é tratada como tola já envolve. A estória ser apresentada sem a habitual correria e frenesi do cinema americano, e sem as cotas wokes nas escolhas dos personagens, outra boa surpresa, que mostra uma liberdade de direção e produção que saem do padrão mainstream. Mas o pulo do gato são as analogias. O crime e o tribunal, aparentes motes principais, ficam pequenos perto do que se trata o filme de fato: relacionamento.
É surpreendente como duas partes em um mesmo relacionamento podem ver a mesma situação de forma tão diferente. Um se doa, puxa a responsabilidade para si, propõe por vontade própria caminhos que vão lhe exigir mais. O outro concorda, assume que aquelas responsabilidades serão de fato do outro (afinal foi proposta dele) e segue com a vida. Este último produz, evolui, cresce. O outro tropeça na confusão de caminhos que ele mesmo escolheu. O conflito é inevitável. Tem alguém errado? Uns verão errado o que concordou deixar o fardo maior nas costas do outro – é frio, egoísta, insensível. Outros verão errado o que fez o plano, executou, fracassou e culpa o outro por sua infelicidade. Evitando os spoilers, o filme trata brilhantemente sobre esta escolha de lados, sobre de que perspectiva você, e o juri, verão o problema.