Aos mestres, Edgar Allan Poe e Federico Fellini.
O belíssimo título desta crônica é fragmento de um poema de Edgar Allan Poe, cuja tradução exata diz: “...e essa febre chamada vida, se conquistou”.
Quando ouvi a frase hoje de manhã (que me encantou, e me disse tanto, e me deu estalos, e me inspirou - coisas que só a literatura consegue fazer por você em sete palavras) atribuída a ele, Poe, a primeira sensação que tive foi de estranhamento, por remeter a tudo que a obra de Edgar Allan Poe não é: solar, vital, positivo, concreta, realista.
A íntegra do poema, chamado Para Annie, fez mais sentido. Interpretei como um poema de amor, onde ele fala da redenção da vida para finalmente ir ao encontro de Annie, seu amor. Fez mais sentido ainda ao conhecer a estória pessoal de Poe, que perdeu a esposa precocemente, de tuberculose: mulheres jovens e moribundas passaram a ser temática recorrente em suas obras.
A fixação de Edgar Allan Poe pelo macabro, pelo sombrio, pelo realismo fantástico sempre me encantou, mas eu nunca havia parado para pensar de onde vinha a inspiração para os adoráveis absurdos. E vejam só, é autobiográfico.
Sempre achei difícil escrever, ou produzir qualquer tipo de arte, sobre o que desconhecemos completamente, sobre o que não sentimos, vivemos ou observamos. Alguma referência, ainda que inconsciente, a mente sempre vai buscar dentro de nós. E vai na nossa essência. E chamamos graciosamente de inspiração, acreditando na fortuitidade, no acaso. Agora imaginem o embate com outro instinto presente (agora em nosso consciente): o da preservação da própria intimidade.
Quando se produz arte, qualquer uma das sete contidas no Manifesto das Sete Artes (Arquitetura, Escultura, Pintura, Música, Poesia, Dança e Cinema), o autor se expõe. Suas crenças, seus preconceitos, seu propósito de vida, tudo está sujeito à interpretação do leitor. É quase como ficar pelado em praça pública. A nossa sorte é que no mundo digital a maioria das pessoas tem preguiça de ler, o que faz com que a exposição seja direcionada, naturalmente e muito provavelmente, para quem olha na mesma direção que você. Que sorte a nossa!
Termino com algumas sugestões para quem quer conhecer Edgar Alan Poe e a classificação das Sete Artes, além da citação de um mestre da sétima arte, Federico Fellini: “Toda a arte é autobiográfica, a pérola é a autobiografia da ostra”.
O Gato Preto - Edgar Allan Poe | Conto
Completo | Fantástica Cultural (fantasticacultural.com.br)
Quais são as 7 artes? - Academia Brasileira de Arte –
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