Parece que foi ontem que na grande e velha casa da Av. Rui
Barbosa, em Friburgo, meu irmão e eu ficávamos à espreita de Papai Noel no
corredor. Sobre uma das mesas da sala, vejo a pequena árvore branca de Natal
decorada com bolas vermelhas - daquelas de vidro, que ainda quebravam - e
muitos presentes ao redor. Com o dia regado à torta de maçã, castanhas,
amendoas, nozes e todo tipo de fruta, a ceia com os infalíveis Perú e Tender,
nadando nas frutas em calda, nem precisava ser tão farta. Vinha a troca de
presentes, o amigo - ora oculto ora secreto, como em toda família de cariocas
com paulistas - que felizmente ninguém respeitava, trazendo muito mais do que
apenas o presente de seu "amigo". E finalmente chegava a hora de por
os sapatinhos no corredor, para em cada um deles, no dia seguinte, encontrar os
presentes deixados pelo misterioso velhinho.
Soube hoje pela minha mãe que essa tradição dos sapatinhos
no corredor veio da família, bem brasileira, do meu pai. Da família dela,
húngara e italiana, veio o hábito de comer e beber bem, e muito. De ambas veio
o nadar no mar de papel de embrulho no dia seguinte, o passa ou repassa dos
presentes-roubada, o medo da balança, a ressaca, os risos das lembranças, a
confraternização. Exatamente o que se espera do Natal. E os sapatinhos no
corredor, é claro.
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