Os pecados capitais me fascinam. Não sei se por definir muito bem a imperfeição do ser humano ou se por representar um convite irresistível à regra a ser quebrada. E a regra divina, que sacrilégio! É igual a estória da maçã. Se ninguém tivesse dito ‘não coma’, aposto que Adão e Eva não teriam nem visto a fruta, ou talvez tivessem visto e feito de bola, de enfeite ou até “arma” para acertar um no outro. Mas sabendo que não era pra comer, eles comeram, claro. E cá estamos nós, bem longe do paraíso. Imagino que todo mundo cometa, ainda que de leve, boa parte dos pecados capitais. Algumas pessoas mais do que as outras, e alguns pecados mais do que outros.
A Gula. A gula é o pecado mais acessível. Todo mundo pode cometer: pobre, rico, jovem, velho, cão, gato e papagaio. Ainda tem quem ache fofinho ser guloso, e às vezes é mesmo.
A Avareza. A avareza não deveria ser considerada pecado, já que realisticamente é o que move o mundo. A cobiça de bens materiais, de dinheiro, até certo ponto é saudável. O problema é saber onde está este ponto.
A Inveja. A meu ver, parece-se com a avareza, só que ao invés de desejar dinheiro você deseja o que é do outro. Se o bem for material e você for esse outro, fique feliz, sinal de bom gosto. Agora se o bem não for material... é pecado mortal!
A Ira. O pecado mais comum. Quem nunca se irritou com nada que atire a primeira pedra. (???????)
A Soberba. É o pecado mais irritante e por isso o único com dupla função: você não tem vontade de socar alguém que se acha?
A Luxúria. Também não devia ser considerado pecado. Que mal tem gostar dos prazeres carnais? Se é um prazer carnal devia reduzir-se a sua insignificância terrena, à carne.
A Preguiça. Esse é o verdadeiro pecado. Por ele deixamos de agir, produzimos menos e a vida muda seu curso. Quantas vezes você já começou alguma coisa e parou? E nunca mais conseguiu voltar a fazer? E repetiu pra si mesmo: “amanhã eu faço, de hoje num passa”. E passa. Admiro os que não são assim, porque existe gente que não é. Podem parecer uns ETs em tanta obstinação, mas que admiráveis ETs!
De longe a preguiça é o pior defeito. Talvez pela preguiça detestamos acordar cedo. Adoramos dormir, mas temos preguiça de ir pra cama. Logo dormimos tarde, acordamos cedo e ficamos com sono do dia todo. E preguiça. E mal humor. Estou dizendo, a preguiça é um horror!
Pela preguiça produzimos menos do que o desejado, do que o necessário até. Por ela não terminamos a listinha de resoluções do ano passado. Não conseguimos perder aqueles 2kg que faltam, ou lavar o carro com a frequência que gostaríamos. Por ela ligamos o computador e ao invés de buscar coisas que realmente importem vamos ler superficialidades: é mais fácil observar a vida alheia do que elaborar algo de concreto na própria. E assim a vida passa, e tantas vezes nos tornamos mais expectadores do que atores dela.
Com preguiça de pensar em uma conclusão mais oportuna para este texto, termino com minha piada politicamente incorreta e preferida a respeito:
"Dois baianos balançando na rede.
– Tem antídoto pra picada de cobra, meu rei?
– Por quê?
– Tem uma vindo em minha direção...”
XXX