quarta-feira, 25 de maio de 2011

Natureza em Fúria 2



Era a segunda vez que ela via de perto a natureza dar uma resposta atravessada aos petulantes terráqueos. A primeira havia sido em Villahermosa, capital do estado de Tabasco, no México, anos antes. Um metro e meio de água no centro da cidade, rios grandiosos transbordando e bairros inteiros submersos. Agora era a linda Friburgo, sua cidade natal não de fato, mas de direito. Seu vale encantado, precioso, preciso ponto de regresso de toda uma geração.

Em ambos os casos a sequência dos acontecimentos foi a mesma: o desastre, as mortes, o choque, o bate-cabeça inicial das autoridades — atestado em Friburgo por três pobres bravos heróis — a falta dos serviços básicos, o desespero da população estocando alimentos e contribuindo involuntáriamente para a escassez deles, e finalmente a reconstrução.

Villahermosa tinha cinco vezes a população de Friburgo e levara seis meses para se reconstruir. Mas reconstruiu-se. Reconstruiu-se para três anos depois sofrer nova ameaça de enchente. Para os costais, posicionados a beira dos rios em um autêntico "trabalho de formiguinha", serem ainda mais altos dos que os do ano da tragédia precedente. Para as pessoas, escoladas, retirarem seus pertences de casa com mais calma e antecedência, e a iminência do filme de terror voltar assombrar.

Só que daquela vez a Natureza, São Pedro, o Acaso ou quem quer que seja, pensou: Vocês de novo? Não. Ainda não aprenderam a lição, mas o último susto foi grande. Deixa eu olhar mais embaixo. E percorrendo o globo mentalmente ele foi descendo. Passou pelo Haiti e lembrou-se de visita recente. Chegou ao árido nordeste brasileiro e achou o lugar estranhamente familiar. Continuou descendo. Não quis incomodar os preparativos do carnaval bahiano - o povo não aguentaria. Lembrou-se de Angra e passou batido. Tinha exagerado, naquela ocasião, ao escolher a noite de Ano Novo para atuar. Seguiu pelas redondezas e encontrou uma região linda. Verde, montanhosa, de flora e fauna surpreendentemente preservadas.

E na região serrana do Rio de Janeiro desta vez ele se apresentou. Com cara nunca antes vista e fúria sequer imaginada. Os terráqueos, atônitos, tentavam entender de onde veio, quando a pergunta poderia ser quando volta? Porque mais cedo ou mais tarde, em algum lugar, voltaria.


XXX



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