terça-feira, 21 de novembro de 2006

Crônica da separação anunciada

Ela: advogada, trinta e seis anos, bonita, realista, vital, alegre. Ele: biólogo (segundo o diploma), quarenta anos, desgrenhado, sonhador, desocupado. Os dois: um filho, um apartamento. Casaram-se em 1995. Com um lugar para morar e amando um ao outro, acreditaram que o relacionamento era completo. A coroação desta idéia viria com o único filho, pouco tempo depois.

Dez anos passaram. Ela, uma executiva bem sucedida, torna-se emocionalmente independente. Ele, que nunca exerceu profissão alguma, vive do aluguel de um apartamento dos pais, uma pessoa com idéias sentado no sofá. Os primeiros cinco anos da vida a dois não anteciparam o problema, porque a paixão não deixa espaço para racionalidades. Mas eis que os anos dourados acabam e o fracasso se anuncia.

A cada vez que ela abre a porta de casa, pensa entrar no túnel do tempo - ali, em dez anos, nada mudara. Inerte na confortável posição de espectador da vida, ele torna-se desinteressante aos olhos dela, e aos de si próprio. O amor próprio acaba, com ele a paixão dela, a esperança do filho, o interesse dos amigos. Na impossibilidade de sobreviver ao tédio da total falta de admiração mútua, ela pede a separação. Ele chora, porque ainda a ama. Ela chora, porque não o ama mais. O filho chora o desamor dos dois.

Mai/2005


XXX



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