terça-feira, 21 de novembro de 2006

Cotidiano

Escritora, carioca, jovem. Tenho o prazer de viver na cidade do Rio de Janeiro e estar em uma ótima fase da vida: a da independência com juventude. Quem está lá ou já passou, sabe exatamente do que estou falando. É uma época peculiar, no mínimo. Falo por mim, por minha família e por meus amigos, que mostram diariamente um divertido cotidiano carioca. No Rio de Janeiro há cotidianos que não se acabam mais. Tem de tudo. A diversidade social é tão grande que a população é quase uma fauna (no bom sentido, sempre). Estava aqui pensando em um tema para uma série de crônicas do dia a dia. Algo que interessasse as pessoas não só para informar, mas muito mais para distrair. Apesar do bom humor natural do brasileiro, as pessoas andam apreensivas. Já reparam que todo mundo trabalha demais? Não há um indivíduo para qual pergunto ‘E aí, tudo bem?’, que me responda: ‘Tudo ótimo, ando tão relaxada! Meu trabalho está em dia, vamos tomar um chopinho mais cedo hoje?’ Aparentemente o estresse está na moda.

Até quem sofre de outro mal, passa a estar estressado, afinal é a desculpa do momento. ‘Brigou com o marido, Marisa? Briguei, ele anda estressadíssimo’. ‘Discutiremos esta cláusula novamente? Sim, precisamos estressar esta questão para fecharmos o contrato’. ‘Por que ela cancelou o espetáculo? Crise de estresse’. Tem até criança estressada! No meu tempo, que nem é tão distante assim, criança brincava e no máximo estressava os pais. A si própria, jamais. Mas é compreensível. Se hoje em dia até celular elas já têm, é justo sentirem-se assim. Celular às vezes estressa mesmo. Por essas e outras acredito que as pessoas precisam de distração. É isso que eu, pelo menos, ando procurando. Além do trabalho, que deve ser coisa séria seja ele qual for, nossa única obrigação é ser feliz. O resto é distração. E nada melhor do que o próprio cotidiano para distrair. Ainda mais quando se vive em um grande centro urbano como Rio, cidade que por si só já é musa inspiradora. Dia desses li num livro da doce Zélia Gattai que Jorge Amado gostava de viajar para buscar tranqüilidade e inspiração para seus romances. Refleti um pouco, e com todo respeito pela Bahia, pensei: é porque nem sempre ele viveu aqui.


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