quarta-feira, 13 de junho de 2012

Terapia à revelia


Ele sempre achou o romantismo uma coisa cafona, mas paradoxalmente era uma pessoa romântica. Gostava de gentilezas, de agradinhos, de atenção. O que haveria de cafona no romantismo se nada mais é do que o bem querer?

Deu conta então que a cafonice estava relacionada àquela timidez que tanto o atrasava. Na ânsia de sair da situação que o constrangia, unicamente pela timidez e ainda que estando em uma situação que desejasse, ele atropelava os sentimentos, abreviava as palavras e passava como uma máquina de cortar grama sobre um jardim florido, deixando apenas talinhos, sem grandes chances de voltarem a florescer.

Isso é doença, disseram-lhe uma vez. Tratou com teatro, não resolveu. Ele tinha cara de pau de subir num palco e se transformar em quem quer que fosse, sem o menor constrangimento, pois seria sempre o outro. E ele não precisava ter vergonha do outro. Na verdade ele não precisava ter vergonha de ninguém, nem do outro nem de si. De onde vinha essa timidez sem propósito? Essa vergonha do mundo?

Talvez morresse sem saber. Conversar com um especialista seria exposição demais, só de pensar ruborizava. A última coisa que preciso é um estranho conhecendo meus temores, pensava. Sua timidez transviava a lógica e cegava a razão. Sua única salvação era alguém ajudá-lo sem que ele notasse. Uma terapia à revelia.

XXX



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