quinta-feira, 17 de maio de 2012

Da linearidade da vida


O comportamento humano é fascinante.  E sua variedade é uma das coisas mais curiosas que já vi. Conversando dia desses com um prestador de serviço, ele me contou que trabalhava há 30 anos na mesma empresa. E à medida que ele, prolixamente, contava detalhes de seu dia a dia no trabalho, minha mente escapou para outras partes da vida daquele homem.

Se ele estava há 30 anos na mesma empresa, sendo especializado no tipo de trabalho que executava naquele momento, possivelmente ele estaria há 30 anos fazendo a mesma coisa. Há 30 anos mexendo com as mesmas ferramentas, há 30 anos morando na mesma cidade, há 30 anos percorrendo o mesmo caminho, vendo as mesmas paisagens, lidando com as mesmas pessoas, convivendo com o mesmo clima. Era uma pessoa feliz. Tinha muitos amigos e por onde passava era reconhecido e admirado. Era calmo, confiável e previsível. Sua personalidade era tranquila, quase quieta. Sua vida era linear.

Ocorreu-me então que era justamente essa constância que fazia dele uma pessoa confiável. E a rotina ininterrupta que o transformava em uma pessoa previsível. E esse conjunto de movimentos repetitivos e comuns que fazia dele uma pessoa calma e feliz. As pessoas que vivem nesta linearidade não são nunca muito felizes nem muito tristes. Vivem em um meio termo limitado mas confortável. Ao contrário de outros que em um mês estão passando férias em Nova York para no outro estar passando o feriado em Araruama. Trabalhando um dia em uma megamultinacional na capital, para no ano seguinte atuar no comércio de uma cidade pequena do interior. A falta do meio termo vai desconcertar estes últimos, que vivem entre os altos e baixos – da mesma forma que a vida constante daquele senhor me perturbou - , mas nunca irá desequilibrar aqueles que já vivem no meio.

Primeiro porque a gente não sente falta do que desconhece. Segundo porque a postura de estar de acordo com o que a vida lhe deu não permite grandes frustações. Nem grandes sonhos. E muito menos grandes conquistas. É quase uma questão de múltipla escolha: a gente pode ser sempre meio feliz, ou eventualmente triste e muito feliz.


XXX




2 comentários:

Cinthia disse...

Conheço pessoas que diriam que o homem do texto vive uma "vida média". Outras diriam "vida mérdia". Tudo depende do ponto de vista.

Wolfgang disse...

Para alguns (me incluo nessa) uma rotina dessas seria de matar. Mas outros se sentem bem nessa zona de conforto. É só ir lá fazer o que faz todos os dias (piloto automático mode on), teoricamente sem nada pra dar errado, e depois voltar pra casa...
Mas se for analisar, nos idos de antigamente era assim. A pessoa entrava na empresa e geralmente se aposentava lá. Atualmente é que há essa dinâmica do "não está legal, vai em busca de outra coisa diferente". E assim vai trocando de empresa, de lugar, até achar o lugar ideal e aquietar um pouco (pelo menos até bater o próximo marasmo e começar tudo de novo).