Na
minha lista de amigos, por exemplo, 10% atuam na área biológica (médicos,
enfermeiros, veterinários, fisioterapeutas). 13% atuam no que chamei de “áreas
diversas” (fotógrafos, comerciantes, músicos, pilotos, esportistas). 18% atuam
em humanas (advogados, jornalistas, publicitários, psicólogos, educadores). 26%
são estudantes, do lar ou malucos que conhecemos por aí e podem estar fazendo
qualquer coisa neste momento. 33% eu classifiquei como pertencentes ao mundo corporativo
(engenheiros, profissionais de TI, marketing e administração). Fora a porção de estudantes e malucos que não
se encaixam em nenhuma categoria, os dois maiores percentuais se assemelham à
minha formação: 18% tiveram a mesma base acadêmica e 33% convivem no mesmo
ambiente profissional. Embora as redes
sociais não devam em absoluto ser fonte de informação, não podemos menosprezar (visto
os últimos acontecimentos no país) seu poder de influência e mobilização. Assim
que, a grosso modo, é o meio desse percentual maior de amigos que vai determinar os pontos de vistas de maior
interesse para a sua realidade, influenciando diretamente a sua forma de pensar.
Outra
coisa que chama minha atenção é a questão dos amigos em comum. Você tem 80 amigos em comum com uma pessoa
que estudou contigo no jardim de infância e você não vê há 25 anos, e apenas 20
amigos em comum com aquela parceira da faculdade com quem você viveu colada nos
últimos 10 anos e sabe tudo da sua vida. O que me sugere que embora símbolo de
modernidade, a rede social veio também para resgatar o passado. Ao olhar parte da lista de amigos a sensação
é de abrir o livro do ano da escola – Yearbook
(daí o conceito do nome Face book),
ou abrasileirando, ver a nossa foto de turma.
E sem sair de casa, sem marcar um encontro, interagindo sem interação, você
tem a chance de ver aquelas pessoas hoje.
Não só ver, saber. Saber como
estão, se o tempo foi cruel ou bondoso com elas. Com quem se relacionam, como é sua ligação
com a família, seus hábitos, em que trabalham, que lugares frequentam. Em alguns casos podemos saber bem mais do que
isso: o que comem, quando se exercitam, para onde viajam, com quem saem, sua
filosofia, se a sua vida é um mar de felicidade ou de revolta.
As
tribos na rede social são fácilmente identificáveis. Há os que só comentam
política. Os que só falam do trabalho. Os que respiram futebol. Os que vivem
exclusivamente para os filhos. Os que estão ali só para se divertir com
superficialidades. Os que acham que não estão se expondo postando e curtindo
mensagens subliminares (ou não) de filosofia de vida. Os que fazem de tudo um pouco. Os que dizem tudo e quase
sempre não dizem nada com grandes frases de efeito. Os que se vangloriam de sua
liberdade, de sua atribulada agenda, de sua independência emocional, mas
tristemente não se desligam nem nos fins de semana, ou na presença real de
amigos e família, vivendo conectados permanentemente em um relacionamento sério
com o computador ou celular. Poucos são os que postam mensagens do que estão
pensando, quando a pergunta é justamente essa: “No que você está pensando?”. É
incapaz de puxar papo com uma pessoa que lhe interesse para não parecer
interessado, mas curte todas as vírgulas que ela posta. Postar 3000 fotos de si
mesmo, dos lugares onde está ou do que está comendo não é exposição, mas de uma
idéia que lhe passou pela cabeça, é.
Também
vejo a imagem da felicidade soberana e absoluta na rede. Compreensível. Se no mundo real não expomos nossas fraquezas
e não queremos despertar pena ou consternação, por que expô-las em uma rede
virtual? Então esbarramos em outra questão:
o que expor? Seu trabalho? Sua arte? Seu
gosto musical? Suas conquistas? Seus filhos? Seu relacionamento? Sua carência
de relacionamento? Sua visão política? Sua filosofia de vida? Sua satisfação ou
insatisfação com o que quer que seja? Sua beleza em frente ao espelho? E para
cada uma dessas perguntas você conhece pelo menos uma meia dúzia de amigos que
responderia “sim”. E você muitas vezes critica quem expõe tudo isso, mas também
se expõe. Porque em algum nível sempre há exposição, a menos que você seja um voyeur. E não poste nada, nunca. De forma alguma imponho aqui tom de crítica, o que definitivamente não é. Aceito e
principalmente me divirto, com todas as cabeças pensantes (umas mais, outras
menos) que habitam o meu mundo virtual. Até porque só criaram o botão “curtir”,
não o “julgar”.
XXX